A História de Jerusalém - Parte I: Dos cananeus a volta do exílio

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Por Pedro Augusto

Personagem de inúmeras disputas ao longa da história, Jerusalém voltou ao centro das atenções mundiais após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, reconhecer a cidade como a capital de Israel.

A história de Sião, ou Cidade Velha ou Cidade de Davi, como também é chamada Jerusalém, começa antes de qualquer relação com israelitas.

Localizada em Canaã (Palestina ou Judeia), a cidade era longe de rotas comerciais e povoada pelos cananeus desde pelo menos 5000 a.C. Algumas cerâmicas descobertas no Egito, mencionam uma cidade chamada Ursalim, uma versão de Salém ou Shalem, deus da estrela Vesper. O nome pode significar "Salém (paz) fundou". Os estudos na região mostram que povos locais eram grandes construtores.

Jerusalém começou a cruzar o caminho de Israel quando o patriarca Abraão foi recebido por Melquisedeque, rei-sacerdote de Salém, em nome do Deus Altíssimo.  Sião continuou a ser controlada pelos cananeus ainda por centenas de anos. Durante este período, os descendentes dos patriarcas foram escravizados no Egito; foram libertos; conquistaram territórios de Canaã; estabeleceram o seu primeiro reino através de Saul, que se matou em um combate e deu lugar a um jovem herói dos israelitas: Davi, que ainda precisou vencer batalhas internas para unificar o reino e despachar os desejosos de instituir um descendente de Saul no trono.

A conquista de Davi

Antes de Israel se tornar um reino, o povo vivia regido pelas leis religiosas e o seu quartel-general era Siquém, onde também se localizava um santuário a Yahweh. Jerusalém ficava ao norte do centro militar dos israelitas e pertencia aos jebuseus.


Conhecida na época como Jebus, Jerusalém ficava ao sul de Gibeão, reduto do rei Saul. Após sete anos de reinado, Davi e seu exército, por motivos não muito claros, partiram rumo a cidade para coquista-la. Os moradores locais diziam que os israelitas não conseguiriam "entrar na cidade" e "até mesmo os cegos e aleijados são capaz de impedir". Eles não conseguiram vencer Davi e ele conquistou a cidade com formidáveis fortificações, Salém.



Depois da vitória, Davi reinou 33 anos em Jerusalém e passou a chama-la de Cidade de Davi. Ele estabeleceu ali o centro de seu governo e trouxe para perto de si o santuário e o principal símbolo da fé judaica: a Arca da Aliança, uma representação da presença do próprio Yahweh.

O período de Davi trouxe algumas mudanças na prática religiosa e foi quando surgiu a ideia da construção de um Templo em Jerusalém para adoração a Yahweh. No entanto, o profeta Natã - alguém de autoridade religiosa - o advertiu a não construir o estabelecimento por causa das mãos sujas de sangue. O rei era um grande guerreiro e matou um grande número de pessoas nas batalhas das quais participou.

Israel colecionou grandes vitórias contra seus inimigos e riquezas. O poder do rei foi tão grande que líderes de outras nações foram ao seu encontro. A literatura hebraica se expandiu através dos famosos Salmos de Davi, que causam admiração e são fonte de inspiração até os dias.

Jerusalém e o Templo

A missão da construção do Templo, que aumentou ainda mais a importância de Jerusalém, ficou para o filho de Davi chamado Salomão, que conseguiu a coroa mesmo após tentativas de traição de seu meio irmão Adonias.

O novo rei começou o seu governo por volta de 970 a. C. e tinha a missão de construir o Templo no monte Moriá, conforme o ordenado por seu pai.

Em sete anos o chamado de Templo de Salomão foi construído, marcado pela exuberância de ouro, pedras preciosas e beleza. Tantos gastos e riquezas porque o estabelecimento não era um simples local para adoração, mas sim a Casa do próprio Deus.

Jerusalém viveu dias de glória e riquezas com a abundância de ouro e prata, além de uma enorme exuberância no local. A cidade também viu seu rei construir um grande palácio. Conforme relatou o autor do Primeiro Livro de Reis, a rainha de Sabá ao visitar Jerusalém "ficou maravilhada ao conhecer o Templo" e afirmou que não comunicaram a ela "nem metade da realidade" das riquezas e beleza de Jerusalém e de seu rei.

Ao longo de seu reinado,  Salomão se tornou um tirano impopular por cobrar altos impostos para financiar toda a sua extravagância e castigar o povo com açoites. Em cidades do sul (Edom) e no norte (Damasco) o rei enfrentou rebeliões. O general do exército Jeroboão planejou uma revolução contra o governo, mas ao ver seu assassinato ser ordenado fugiu para o Egito.

Israel dividida

Após a morte de Salomão, seu filho Roboão assumiu o trono e logo em seguida, a população do norte pediu a Jeroboão para avisar ao novo rei que não toleraria mais os altos impostos. Contudo, o rei prometeu endurecer ainda mais o seu regime.


O norte de Israel - que continuou a se chamar Israel-, que era a junção de 10 tribos (uma forma de estados), decidiu declarar independência de Roboão e instituiu Jeroboão como o novo rei. Para diminuir a importância política e religiosa de Jerusalém - capital do reino do sul, Judá- , o novo governo instituiu novos deuses para serem adorados.

O norte e o sul (onde ficava Jerusalém) passaram por cerca de 50 anos em guerra, até que houve paz entre as duas regiões. O rei de Israel, Acabe, casou-se com a fenícia Jezabel, responsável pelo inicio de uma pesada perseguição religiosa. A nova rainha e sua família  governaram Jerusalém, local que se desenvolvia muito, e Israel, após uma aliança através de um casamento com princesa Atália e o rei, Jeroah, de Judá.

Em 854 a.C, a Assíria, onde hoje é o Iraque, tentou conquistar a Síria, que pediu auxílio de Judá e Israel e venceram a guerra. No entanto, a coalizão se desfez e os judeus e israelitas lutaram contra a Síria. Neste momento, o rei Acabe foi morto por uma flecha e um de seus generais chamado Jeú se rebelou e massacrou a família real.

Logo após a morte de Acabe, Jéu foi ungido rei de Israel, matou o descente do trono Jorão e fez um amontoado de setenta cabeças dos filhos de Acabe na entrada de Samaria, além do rei de Judá que visitava Israel.  Para conquistar o trono, ele ainda precisava derrotar a rainha Jezabel. Ela se enfeitou para encontrar Jeú e tentar seduzi-lo. Porém, ele ordenou que a mesma fosse jogada da janela do palácio e pulverizada sob as rodas dos carros.  A sua carcaça foi dada de comer para os cães de Israel.

Enquanto a família real era massacrada, a filha de Jezabel, a rainha Atália, tomou o poder em Jerusalém e ordenou a morte de todos os descendentes do rei Davi, inclusive os próprios netos. Somente um foi poupado, o bebê Joás, que foi escondido nos edifícios do Templo.

A nova rainha de Jerusalém despertou a ira do povo local quando ordenou que no Templo de Jerusalém fossem adorados outros deuses. Depois de seis anos, um sacerdote reuniu os poderosos da cidade e revelou a existência de um descendente de Davi e todos juraram lealdade a criança. O líder religioso armou os guardas e ungiu Joás publicamente como o novo rei. O povo gritou "traição, traição" contra a rainha, levaram-na para fora da cidade e mataram-na.

O novo rei esteve no comando de Jerusalém por 40 anos até ser morto e Sião ser atacado pela Síria, que exigiu todo o ouro do Templo. A cidade ainda seria atacada por Israel 30 anos depois e o Templo sofreria um saque. E os ataques não pararam. Após recusar uma ajuda aos sírios e israelitas contra o poderoso exército assírio, a cidade foi cercada, mas salva pela quebra de aliança entre Israel e Síria, enquanto o rei de Judá, Acaz decidia se submetia-se à Assíria ou não.

A Assíria atacou e por pouco não exterminou por completo as dez tribos de Israel, chegando a deportar 27 mil pessoas. O filho de Acaz, o rei Ezequias esperou 20 anos para se rebelar contra os assírios, já que o império passou por período de declíneo. No entanto, o poderoso império veio até Jerusalém para poder atacá-la. Ao saber do potencial de destruição dos assírios por causa do ataque à Babilônia, Ezequias construiu freneticamente muros de 7,6 metros nos bairros de Jerusalém e pediu auxílio ao Egito, que viu seu exército ser massacrado rapidamente. Judá foi arrasada e Jerusalém cercada, enquanto o Ezequias envenenava os poços fora da Cidade de Davi.

Dias depois, o acampamento Assírio acordou lotado de cadáveres de seus soldados. O fato foi atribuído a uma ação de Yahweh. Com Ezequias, Jerusalém e a religião judaica passaram por diversas reformas. Todas foram desfeitas por Manassés, filho de Ezequias. Ele se tornou um leal vassalo sírio e instituiu prostitutos rituais e ídolos do deus Baal e Asherah no Templo, após esmagar uma forte oposição. Uma marca desse período desse novo reinado foi sacrifício de crianças.

Ao longo dos anos seguintes, a Babilônia, que marcaria para sempre a história de Jerusalém, ganhava poder e vencia os poderosos impérios sírios e assírios. Ao passo disso, o neto de Manassés, Josias, assumia o reino e trazia um novo tempo de prosperidade para Jerusalém e ordenava reformas religiosas ao expulsar e matar os sacerdotes de Baal e Asherah. Ele foi morto por um faraó, que colocou Jeoiaquim, irmão de Josias no trono de Sião.

A aliança com o Egito não foi o suficiente para proteger Jerusalém, já que os egípcios foram derrotados pela nova força imperial: a Babilônia do rei Nabucodonosor. O novo império invadiu a Cidade de Davi, saqueou o Templo, deportou cerca de 10 mil nobres, artesãos e jovens para a Babilônia.

Nabucodonosor, colocou Zedequias no trono de Jerusalém, tio do rei exilado, que tentou começar uma rebelião e logo viu a cidade ser cercada e derrotada. O profeta Jeremias  relatou que a forme era severa na cidade e havia insinuações de canibalismo. Os babilônios atacaram a cidade e queimaram-na completamente. Pessoas morreram com seus corpos queimadas e mulheres foram violentadas sexualmente.  A cidade sagrada e o Templo foram destruídos. O povo foi levado para o cativeiro por 70 anos.


A volta para Jerusalém

Anos depois, os persas marcharam sobre a Babilônia e venceram. Um novo império era formado. Na Pérsia, os judeus passaram por diversos desafios e ameaças de morte. Em uma delas, foram salvos por causa de Ester, judia que encantou e se casou o rei Assuero.

O rei Ciro ao entrar em terras babilônicas foi bem visto pelos judeus. Ele ofereceu tolerância religiosa para unir os povos e mandou os judeus de volta para casa, ofereceu-se para ajudar na reconstrução do Templo e deixou o povo viver conforme as suas leis. 42.360 exilados voltaram para Jerusalém.

A reconstrução da Cidade de Davi e do Templo pararam alguns anos por causa de conflitos internos da Pérsia. O governador de Jerusalém, Zorobabel, pediu ao rei Dario, que chegou ao trono após uma conspiração interna no império, para que o decreto de Ciro fosse cumprido. O imperador autorizou. Anciãos que viram o antigo Templo, alegraram-se pela possibilidade de voltar à sua terra natal e entristeceram-se pelo estado da deserta Jerusalém.

50 anos depois, o judeu Neemias, o copeiro Artaxerxes I neto de Dario foi designado governador de Jerusalém, além de receber recursos financeiros. Moradores da cidade pediam ajuda para a construção do Templo e do muro, além de resolver a questão da miséria que assolava a terra.

Os judeus desenvolviam um pequeno Estado semi-independente regido pelo código de leis da Torá. A autoridade local era exercida por uma dinastia de sacerdotes descendentes do sacerdote do rei Davi. Um dos líderes locais foi morto pelo próprio irmão no Templo e causou pretexto para o rei persa saquear o ouro de Jerusalém.

Enquanto isso, os Macedônios liderados por Filipe II e depois por Alexandre, empreenderam uma guerra contra a Pérsia e venceram.

O destino de Jerusalém agora estava nas mãos da Grécia.

Continua...

Publicado em O Congressista


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